domingo, abril 18, 2010

Bonanza


Lembro-me... eu era bem criança e estavam anunciando na TV a chegada da imagem colorida. Fanática por esse aparelho, não cabia em mim de excitação e aguardava com muita ansiedade o tal dia. A estréia seria num sábado (12/09/59 – não me lembrei, não, procurei na Internet...rs), com o filme Bonanza. Era meu seriado predileto! Não perdia um, então minha alegria seria dobrada.


Para quem não teve o prazer de assistir esse seriado, faço um breve resumo: um faroeste onde Ponderosa era o nome de uma fazenda quer pertencia à família Cartwright. O pai charmosão (Ben) e seus três filhos, Little Joe (o caçula, lindo de morrer), Adam (o mais charmoso), Hoss (o grandão desengonçado e super forte, adorável) e Hop Sing (o cozinheiro chinês) formavam a trama (a saga de uma família em defesa de seu rancho em Nevada) e traziam muito prazer para as minhas noites de sábado. Já que me estendi nesses parênteses, seguem os nomes dos atores: Lorne Greene (Ben Cartwright); Michael Landon (Joseph "Little Joe" Cartwright), Dan Blocker (Eric "Hoss" Cartwright), Pernell Roberts (Adam Cartwright) e Victor Sen Yung (Hop Sing).


Voltando ao assunto principal, lembro-me do fatídico sábado que seria a estréia do Bonanza “colorido”! Não sei quantas orações fiz para não acabar a luz na hora do filme (naquela época era muito comum acabar a energia elétrica a qualquer hora do dia e da noite, com muita constância). Não pensei em outra coisa o dia inteiro e, na hora do filme, a alegria que me invadia era indescritível (eu iria ver Little Boy a cores...!!!).


Pois é, mas ninguém havia me avisado que a TV precisava ser “a cores” também... Alguém pode imaginar o que se passou na cabeça de uma criança de sete anos naquela noite? ...



Sueli de Freitas

quarta-feira, janeiro 20, 2010

Declamando...


Quando criança, sempre fui muito tímida, mas adorava recitar. Conhecia muitas poesias infantis e ficava em frente ao espelho decorando e recitando (somente o espelho e eu). Certo dia, o diretor do colégio entrou em nossa sala e perguntou se havia alguém que sabia declamar. Automaticamente, levantei a mão (até hoje não descobri quem empurrou minha mão para cima, pois com o tamanho da minha timidez, poderiam ser todos, menos eu). Estava, então, com nove anos. Ele me chamou para fora da sala e vi que já havia algumas crianças com ele. Levou-nos para seu gabinete, onde estavam mais alguns professores, e pediu a cada um de nós que declamasse alguma poesia. Eu só queria que o mundo acabasse naquele momento... Sentia vergonha de declamar e sentia vergonha de dizer que não iria fazê-lo. Quando chegou minha vez, abri a boca para dizer que não queria, mas comecei a declamar a primeira poesia que me veio à cabeça. Lembro que a primeira frase saiu tremida, mas fechei os olhos, imaginei-me em frente ao espelho e “mandei ver”...


Não me lembro exatamente que poesia era, mas, quando todos terminaram, após confabular com os outros professores presentes, ele nos disse o porquê de tudo aquilo. O jornal “A Folha de São Paulo” estava lançando um concurso estudantil de declamadores, para crianças na minha faixa etária e a escola havia sido convidada a participar. E que eu acabava de ser a escolhida para representá-la...


Acho que ninguém pode imaginar o que eu passei naquele instante. Não sabia se ria ou se chorava. Lembro-me que a partir de então, ele selecionou duas professoras para me treinar e todas as tardes ficava com elas ensaiando. Elas me selecionaram a poesia “Pássaro Cativo” de Olavo Bilac e me pediram para decorar. Foi com ela que participei da primeira eliminatória com crianças das escolas da cidade inteira. É inacreditável, mas eu estava calma... Fiquei entre as dez classificadas. Eu não acreditava nisso, mas era verdade. A final foi no auditório da Folha. Não me lembro que classificação peguei. Mas, não ganhei...rs.


Só me lembro das professoras (Rosana e Elisete) tentando me consolar. Mas o que elas não sabiam é que para mim havia uma vitória que somente eu conseguia identificar. Eu conseguira falar em público! Eu havia vencido minha timidez e, desde então, muita coisa mudou em minha vida. Pude até fazer teatro, que era meu sonho e ... bem, essa é uma outra história que fica para uma outra vez...


Sueli Benko
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quinta-feira, dezembro 03, 2009

Férias em Barão Geraldo - Campinas

Ipê Roxo na entrada de Barão Geraldo – Campinas
By Manoel José Gonçalves da Silva
http://www.panoramio.com/photo/10752632


Deliciosas recordações tenho das férias de minha infância. Um dos lugares que eu mais gostava de ir era para a casa do tio Anísio, em Barão Geraldo (Campinas). Ele era uma pessoa muito popular naquele vilarejo, sua casa era uma delícia e ele me adorava. O “terreiro” era muito grande e imaginem que havia até um mini zoológico no quintal.


Hoje, deportei-me para aquela época e comecei a me lembrar de tantas coisas que julgava esquecidas. Havia uma onça pintada, cujo olhar parecia me hipnotizar. Eu me sentava em frente a sua jaula e ela me encarava (e eu a ela), parecíamos estar jogando aquele jogo de ver quem aguenta ficar sem piscar por mais tempo. De repente, ela soltava um rugido e eu saia correndo (acho que ela não gostava de perder o jogo... rs). Eu acabava com o estoque de bananas de tanto que ia levar para os macacos (tinha um monte). Minha prima gostava de fazer quadros com borboletas que ela caçava e eu morria de dó das bichinhas.


Lembro-me da irmã de minha tia que fazia muitas coisas gostosas para eu comer...Meu tio (que não era meu tio de verdade, mas compadre de meu avô e padrinho de meu pai), quando queria me impressionar, pegava uma cobra enorme e andava pela casa com ela enrolada no pescoço. Um dia até me convenceu a encostar a ponta do dedo na dita cuja (que pavor me deu!). O mais pitoresco de tudo é que ele criou um urubu desde filhotinho e esse pássaro afeiçoou-se a ele de tal forma, que o seguia pela cidade inteira, voando sobre sua cabeça, mesmo quando ele estava dirigindo, até que um dia, misteriosamente, apareceu morto. Titio sofreu muito e ninguém nunca soube quem foi o responsável pela morte do bichinho.


Eu tinha dois primos muito arteiros. Um era bem maior que eu e chupava o dedo. Porém, de quem eu gostava mesmo era do caçula, pouco mais velho do que eu (o Nenê). Lembro-me dele tantas vezes correndo de meu tio para não apanhar, pelas traquinagens que fazia. E foi por causa dele que resolvi escrever este texto hoje.


Desse pessoal todo, somente Nenê e minha prima Ceci estão vivos, mas somente com ele ainda mantenho contato. A gente quase não se vê, mas nos falamos quase sempre pelo telefone. Nenê sofreu uma cirurgia tempos atrás e passou muito mal; foi um grande susto. Ele ainda mora em Campinas mas deve fazer uns quinza anos que não nos vemos. Já há alguns dias tento ligar para ele, mas ninguém atende o telefone de sua casa e o celular não existe mais. Já estava começando a ficar preocupada, porém hoje, numa última tentativa, ao ligar o número de sua casa, ele atendeu. Após lhe dar um monte de bronca ainda tive coragem de lhe dizer: “Pô, meu, pensei que você tivesse morrido...” Bem, ele prometeu que semana que vem virá com minha prima para São Paulo e me farão uma visita. Estou muito feliz com essa perspectiva de vê-los novamente.

Ah! Hoje descobri quem matou o urubu (mas é segredo...rs)



Sueli Benko


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domingo, junho 18, 2006



O colégio

Voltando àquela tarde, quando eu tinha quatro aninhos, chegando à loja do meu avô, da qual me lembro o endereço até hoje (Rua Silva Jardim, 77 – Belenzinho – São Paulo) e, também, do telefone (9-7954), apavorei-me, pois lá estavam duas freiras. A cena da cirurgia das amídalas voltou à minha mente na hora e, pensei que aquelas duas “monstras” ali estavam para me levar de volta ao hospital. Voltei correndo, até ser segura no braço por minha avó que, calmamente me explicou que aquelas eram um outro tipo de freira e que não trabalhavam num hospital. Eu precisava passar por elas para entrar em casa (nessa época, eu morava com meus avós e a casa ficava nos fundos da loja) e me vejo agora, passando por elas, o mais longe possível, com os olhos bem arregalados, quase sem respiração, atenta ao menor movimento. Meu avô pegou-me, então, no colo e começou a explicar que elas eram muito boazinhas e lecionavam no colégio onde eu iria estudar. Aproximou-se das duas, comigo em seu colo, mas eu não me deixava convencer. Meu pavor voltara e todos os esforços para que eu as cumprimentasse foram em vão. As aulas iniciaram-se na semana seguinte. A família toda tentava convencer-me a não ter medo. É claro que meu pai entrou em cena, com aquele jeito tão peculiar de falar comigo: “vai prá escola e sem chorar, porque se não for, vai apanhar”. Virando-se para minha avó, completou: “se ela chorar a senhora me conta”. Diante desse ultimato, não me restou outra alternativa: fui para o colégio no dia seguinte, e sem chorar. Era o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, que ficava na Rua Passos, nº 36 (nem eu sabia que ainda me lembrava desse endereço). Realmente, não era um hospital. Muito desconfiada, não deixava qualquer pessoa chegar perto de mim. Foi-me reservada uma carteira na primeira fila, bem no meio. A professora, que era uma freira, ficava bem na minha frente e aquela visão estava incomodando-me muito. Não deu outra, no primeiro dia de aula cruzei os braços na carteira e abaixei a cabeça. A freira, muito atenciosa, tentava conversar comigo, mas eu estava convencida a não deixar que me levasse para a “sala de cirurgia”. Minha mãe não estava lá para me soltar. Meu pai não estava lá para me bater. Se tentassem me pegar, eu sairia correndo. Santa ingenuidade. Acho que me tornei um desafio para aquela bondosa criatura, a Irmã Ana Maria. A cada dia, com toda sua paciência, foi me retirando daquele casulo e se tornando a pessoa em quem mais confiei na minha infância. Morena, baixinha e magrinha, usava óculos com uma armação grossa preta e se tornou, em muito pouco tempo, a minha melhor amiga. Sempre tive certeza que também fui sua aluna predileta. Andávamos pela escola de mãos dadas, a maior parte do tempo. Mais tarde, quando brincávamos de roda, era sempre eu que ela tirava para dançar e era sempre atrás de mim que ela deixava cair o lenço na brincadeira “lenço-atrás”. Passa-anel, nem preciso dizer em que mão caía o anel,quando era sua vez de passar. O amor que senti por essa freira foi tão grande, que nosso afastamento veio a se tornar um outro problema, cinco anos mais tarde, quando precisei deixar aquele colégio. É ... desde muito cedo, precisei lidar com “perdas” (e até hoje, não aprendi).

sábado, junho 17, 2006



Amigdalas

Naquela tarde, cheguei à loja de meu avô (era uma avicultura), que ficava no bairro do Belenzinho, em São Paulo. Avistei duas freiras. Virei as costas e saí correndo ... Eu estava com quatro anos, recém operada das amídalas. Operada e traumatizada, pois me lembro até hoje da cena. Era um hospital bem clarinho, com bancos brancos ao longo do corredor. Estávamos minha mãe e eu. Papai esperava do lado de fora. Eu sabia que ia acontecer alguma coisa comigo, mas ainda não tinha descoberto o que, exatamente. Haviam umas mulheres com roupa comprida e véu na cabeça que passavam para lá e para cá. Num dado momento, apareceu uma delas e falou secamente para mamãe: “chegou a vez dela” (minha vez?... vez do que?). Mamãe então me disse “filha, você precisa acompanhar a irmã (mas ela não é minha irmã...), não vai doer nada” (o instinto já me avisou que havia algo errado, o que não ia doer???). Como poderia eu deixar minha mãe e acompanhar aquela estranha de cara fechada? “EU QUERO MINHA VÓ”. Onde estava minha avó? Ela, com certeza, não me entregaria para uma mal encarada estranha... Acho que odiei minha mãe naquele instante, pois buscava sua mão e ela, tentando passar-me calma, insistia em dizer que não iria doer nada. Ela chorava também. Agarrei sua saia e a dona “mal encarada de saia comprida” me puxava. Mamãe não brigou com ela. Mamãe não me defendeu. Eu implorava a ela pra me levar embora. Ela soltou-se de mim e me deixou ser levada... berrando, esperneando, apavorada. Ainda deu para agarrar o banco, mas a mal encarada era mais forte que eu. Onde estava vovó, onde estava vovô? Eles teriam me salvado da dona “mal encarada de saias compridas”, que agora também passava a ser uma “monstra”. Ainda hoje, se fecho os olhos, sinto seus dedos apertando meus braços. Fui levada para uma sala pequena e sentada numa cadeira, semelhante às de dentista. Um homem de roupa branca entrou e, ajudado pela “monstra”, amarrou-me na cadeira. Eu acho que já não tinha mais voz de tanto gritar. Lembro que meu pavor não tinha limites. E minha mãe, havia permitido... e não havia vindo me salvar. Ninguém aparecia par me salvar ... Muito pelo contrário, se meu pai soubesse de tudo isso, ainda seria capaz de dar razão para a “monstra”. Ele não gostava de mim. É, papai não gostava de mim. ele, ainda iria me bater. Eu precisava parar de gritar antes que ele chegasse... e pedir para mamãe não contar para ele ... De qualquer forma, não iria ter como gritar mesmo, colocaram algo na minha boca, parecei uma cuia de coco ... Puxa vida! Agora que quero fechar a boca eu não posso!!! Papai vai me bater ... sei que vai ...

sábado, dezembro 24, 2005


Belinho

Lembro-me da viagem de trem. Eu estava, então, com quatro anos. Só nós duas: vovó e eu. Viajamos a noite inteira e, pela primeira vez na vida, eu assistia o nascimento de um dia. Vovó mostrava-me as “vaquinhas”, os “boizinhos”, os “cavalinhos” e seus filhotes. Apaixonei-me imediatamente por todos eles e, por muitos anos, seria esta minha paisagem predileta. Chegamos a Barretos bem cedo. Fomos para o ponto da jardineira (era este o nome daquele ônibus esquisito), que nos levaria para a fazenda de uma família amiga de meus avós. Não me lembro bem do proprietário, mas lembro-me muito bem de seu filho. Devia ter, na época, uns vinte e poucos anos. Já era um moço e muito simpático. Lembro-me que quando me viu pegou-me no colo e não se cansava de dizer “que menina linda!”. Eu que sempre fui tão tímida, adorei aquele contato. Era a primeira vez que um homem, que não fosse meu pai ou meu avô, segurava-me no colo e dizia-me coisas tão amáveis. Foi meu primeiro contato com o “bicho homem”. Foi minha primeira paixão. Eu tinha quatro anos! Nunca cheguei a saber seu nome real, mas o chamavam de “Belinho” e era peão. Todo o meu tempo naqueles dias eram gastos junto a ele, no seu colo ou ao seu lado. Somente ficava longe quando ele montava em seu cavalo e saia pela fazenda afora. Uma vez ele montou comigo no cavalo, mas senti pavor. O cavalo virava a cabeça para trás para espantar as moscas e eu pensava que ele ia me morder. Chorei apavorada (que vergonha!) Ele dizia para todos que eu era sua namorada. E eu acreditava nisso! Uma tarde, estava deitada (contra minha vontade), pois vovó queria descansar. Meus olhos teimavam em ficar abertos e, de repente, vi uma baita aranha (a maior que já vi em minha vida), andando pela janela. Era preta e peluda. Gritei! “Belinhooooooooo!!!!!”. Repetida e histericamente, gritei seu nome. E ele materializou-se em minha frente. Meu herói chegou e, não me lembro como, livrou-se daquela aranha horrível. Pegou-me no colo e. carinhosamente, convenceu-me de que não havia mais perigo algum. Não desgrudei dele naquela noite. No dia seguinte, aconteceu o inesperado. Ela chegou. Sim, ela, a primeira rival das tantas que eu haveria de enfrentar pela vida afora, chegou. Não sei se era nome ou apelido, mas Fiuca chegou e o abraço deles foi demorado demais. Eu os observava de soslaio, com o coração na mão e eles demoraram tanto para se afastar um do outro. Foi quando ele olhou para mim, pegou na mão dela e disse “Venha conhecer minha outra namorada. Veja que linda!”. Ela olhou-me docemente e quando se abaixou para me beijar eu virei as costas e disparei a correr, nem sei para onde. Estranho, não me lembro do que aconteceu depois. Dizem que nossa mente incumbe-se de esconder fatos muito tristes de nossa memória e acho que foi o que aconteceu. Foi a minha primeira cena de ciúme. Penso que comecei muito cedo. E eu já era marruda, pois não mais olhei para ele até o dia de vir embora. Acho que não o perdoei ... Anos mais tarde descobri o motivo de estarmos naquela fazenda, com pessoas que eu nunca tinha visto, mas que eram muito amigos de minha família. Tínhamos ido para o noivado dele, do Belinho. Nunca mais o vi, mas sei que se casou com Fiuca.

sexta-feira, dezembro 23, 2005


Um momento de Natal

Naquela época eu ainda pensava que havia nascido no dia de Natal, pois assim constava e ainda consta em meus documentos. (Papai havia me registrado em data diferente, pois havia se atrasado para ir ao cartório e não queria pagar a multa) Eu havia completado 5 anos uma semana antes, mas em minha cabeça, era o dia de meu aniversário aquele dia de Natal. Dia duplamente feliz: Natal e aniversário! Significava muitos presentes, comida boa, doces, muita gente à minha volta, parabéns e mais parabéns e ainda, para encerrar, um belo bolo, sempre vovó encomendava um bolo artístico para a “boleira” mais famosa do bairro. E naquele ano o bolo foi a réplica de uma árvore de Natal. Não consigo imaginar hoje, como pode um bolo ter esse formato, mas o meu, naquele ano tinha, tinha mesmo. Uma árvore enfeitada, igualzinha à que estava na sala. Aquela que não me deixavam chegar perto, pois os enfeites eram “perigosos”; se eu quebrasse algum, faria um “dodói” horrível em minha mão. E eu não me aproximava deles. De jeito nenhum. Eu era uma menina obediente, sempre fui. Neste instante, consigo voltar no tempo e me ver acordando, minha cama encostada à cama dos meus avós. Ouvia muitas vozes na cozinha, já estavam preparando o almoço. Teria leitão assado, com certeza. Senti o cheiro característico das manhãs de Natal inundando o quarto. De repente, lembrei-me: o presente. O presente! Onde estava meu presente? “ Vôôôôô ....!!! Cadê meu presente??????” Silêncio na cozinha. Não se ouvia um pio. Alguém sussurrou “Ela acordou”. Vovô colocou seu rosto na porta e disse: “Parece que Papai Noel passou por aqui esta noite e deixou algo para você, mas não sei onde está ...”. Não precisou falar duas vezes, pulei da cama e nem cheguei até a porta. No chão, aos pés da cama, estava uma caixa enorme, envolvida num papel colorido, abraçado por laços de fita, muito bonita. Era o maior presente que eu já havia recebido. Não tinha meu nome, mas eu sabia que era meu. Afoita, desembrulhei e deparei-me com uma boneca enorme!! Quase do meu tamanho (ou era do meu tamanho?)! Ela não tinha os cabelos enraizados, eram colados. Era morena, de louça. Mas ela andava! Sim, ela andava! Ninguém imagina o que significava, naquela época, ter uma boneca, daquele tamanho, “que andava”! Aquele ano, aquele dia, aquele momento em que abri a caixa e vi a boneca, ficou gravado em minha mente até hoje. Foi, sem dúvida, dentro de sseu contexto, um dos momentos mais felizes da minha vida. Papai Noel não havia se esquecido de mim.

P.S. Lembrei-me de mais um detalhe: dei àquela boneca, o nome de Belinha (horrível, não? Mas lembrei-me também a razão. Uns meses antes, eu havia me apaixonado, numa fazenda em Barretos, por um peão cujo apelido era Belinho).