quarta-feira, janeiro 20, 2010

Declamando...


Quando criança, sempre fui muito tímida, mas adorava recitar. Conhecia muitas poesias infantis e ficava em frente ao espelho decorando e recitando (somente o espelho e eu). Certo dia, o diretor do colégio entrou em nossa sala e perguntou se havia alguém que sabia declamar. Automaticamente, levantei a mão (até hoje não descobri quem empurrou minha mão para cima, pois com o tamanho da minha timidez, poderiam ser todos, menos eu). Estava, então, com nove anos. Ele me chamou para fora da sala e vi que já havia algumas crianças com ele. Levou-nos para seu gabinete, onde estavam mais alguns professores, e pediu a cada um de nós que declamasse alguma poesia. Eu só queria que o mundo acabasse naquele momento... Sentia vergonha de declamar e sentia vergonha de dizer que não iria fazê-lo. Quando chegou minha vez, abri a boca para dizer que não queria, mas comecei a declamar a primeira poesia que me veio à cabeça. Lembro que a primeira frase saiu tremida, mas fechei os olhos, imaginei-me em frente ao espelho e “mandei ver”...


Não me lembro exatamente que poesia era, mas, quando todos terminaram, após confabular com os outros professores presentes, ele nos disse o porquê de tudo aquilo. O jornal “A Folha de São Paulo” estava lançando um concurso estudantil de declamadores, para crianças na minha faixa etária e a escola havia sido convidada a participar. E que eu acabava de ser a escolhida para representá-la...


Acho que ninguém pode imaginar o que eu passei naquele instante. Não sabia se ria ou se chorava. Lembro-me que a partir de então, ele selecionou duas professoras para me treinar e todas as tardes ficava com elas ensaiando. Elas me selecionaram a poesia “Pássaro Cativo” de Olavo Bilac e me pediram para decorar. Foi com ela que participei da primeira eliminatória com crianças das escolas da cidade inteira. É inacreditável, mas eu estava calma... Fiquei entre as dez classificadas. Eu não acreditava nisso, mas era verdade. A final foi no auditório da Folha. Não me lembro que classificação peguei. Mas, não ganhei...rs.


Só me lembro das professoras (Rosana e Elisete) tentando me consolar. Mas o que elas não sabiam é que para mim havia uma vitória que somente eu conseguia identificar. Eu conseguira falar em público! Eu havia vencido minha timidez e, desde então, muita coisa mudou em minha vida. Pude até fazer teatro, que era meu sonho e ... bem, essa é uma outra história que fica para uma outra vez...


Sueli Benko
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